terça-feira, 30 de março de 2010

E houve poesia em português e em italiano...



Liberdade

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.

Ma che piacere
non compiere un dovere,
avere un libro da leggere
e non farlo!
Che noiosa la lettura,
che pochezza la cultura!

O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa…

Il sole splende senza letteratura.
Il fiume scorre, bene o male,
senza edizione originale.
E la brezza che passa,
naturale e mattiniera,
sa che ha tempo, e non ha fretta...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

I libri sono carta inchiostrata.
Lo studio è una cosa ove è indistinta
la distinzione fra il niente e cosa alcuna.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Quanto è meglio, se c'è bruma,
aspettare Don Sebastiano,
venga o non venga.

Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Grande è la poesia, la bontà e le danze…
ma le cose migliori son l'infanzia,
fiori, musica, chiardiluna, e il sole, che pecca
solo se invece di nutrire secca…

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
E ancor meglio di questo
è Gesù Cristo,


Que não sabia nada de finanças,
che non sapeva niente di finanze

Nem consta que tivesse biblioteca…
né consta che avesse biblioteca.

Fernando Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário